Resumo crítico do
livro: BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Zahar Ed, 1997.
Lourdes Lúcia Goi
Professora da
faculdade ITOP
Palmas- Tocantins
1 IDEIAS PRINCIPAIS DO LIVRO
Apresenta críticas aos profissionais
da imagem, servindo de alerta para que esta não se transforme em instrumento de
opressão simbólica, uma vez que a imagem e o discurso são carregados de
ideologia. A seguir as principais ideias do livro:
O estúdio e seus bastidores
Faz uma alerta aos que são
convidados a se manifestar na televisão para que o façam a partir de
negociações com os jornalistas, a partir de um contrato. Os jornalistas sejam
integrados à reflexão sobre as intenções desta participação para superar
coletivamente às ameaças de instrumentalização. Pesquisadores ou cientistas têm
a obrigação de restituir as descobertas sobre a natureza e a sociedade aos
telespectadores. Participando da televisão (teoricamente) tem a possibilidade
de atingir todo mundo.
O acesso à televisão tem uma
contrapartida uma formidável censura. Há perda de autonomia, pois o assunto é
imposto, o tempo é limitado impondo ao discurso restrições, evidenciando-se
como uma questão política. Há intervenções políticas, um controle político.
Há também censuras econômicas,
pressão econômica sobre a televisão, pelos anunciantes que pagam a publicidade
ou pelo Estado que dá subvenções.
Através destas censuras política e
econômica percebe-se a televisão como instrumento de manutenção da ordem
simbólica. Os que participam do processo televisivo manipulam, e quanto mais
manipulados são eles, mais inconscientes de sê-lo. Os jornalistas não aceitam a
crítica dos sociólogos, a denúncia dos escândalos das ações impedindo o avanço
da análise do meio de comunicação, e o incentivo ao compromisso de sua
responsabilidade.
Certas posições podem desviar do
essencial, na medida em que a corrupção das pessoas mascara a corrupção
estrutural que se exerce sobre o conjunto do jogo através de mecanismos como a
concorrência pelas fatias do mercado.
A televisão exerce uma forma
perniciosa de violência simbólica. Quem exerce ou sofre a influência da
comunicação pela mídia o fazem com cumplicidade, envolvendo-se ou aceitando
embora que inconsciente.
Uma parte da ação simbólica da TV,
no plano das informações, consiste em construir a realidade de maneira que não
choca ninguém, que envolve disputa, que não divide, que forma consenso, mas que
não toca nada de importante. Estas podem ser as variedades, que ocupam tempo
com coisas fúteis.
Os jornalistas fazem uma seleção pelo sensacional, espetacular,
e ainda fazem uma construção do que
é selecionado.
A televisão convida a dramatização
posada em cena, em imagens, um acontecimento exagerando-lhe a importância e o
caráter dramático e trágico.
A busca dos jornalistas pelo que não
é cotidiano, pelo extraordinário, pode ser o que não é ordinário para outros
jornais. Esta busca revela-se como uma grande limitação porque existe uma
uniformização provocando uma perseguição pelo furo.
A busca pelo extra-ordinário pode
ter efeitos políticos. Os jornalistas dispõe da imagem televisiva, e, por medo
da exclusão ou por instruções políticas, produzem efeitos extraordinários.
Pode também produzir o efeito de real. Pode fazer ver e fazer
crer no que faz ver. Esse poder de mobilização faz existir idéias ou
representações sobre acontecimentos ou grupos, podendo desencadear sentimentos
negativos como o racismo. Isto tudo porque o repórter sempre faz uma construção social da realidade
capaz de exercer efeitos sociais de mobilização.
Voltando ao extra-ordinário, destaca
os efeitos do mecanismo de circulação circular do jornalismo. Para se manter
vivo e com audiência é preciso produzir um choque que interesse a toda mídia ou
ao menos a um dos meios de comunicação e que poderá ser reforçado pelo efeito
da concorrência. “Há objetos que são impostos aos telespectadores porque se
impõem aos produtores; e se impõem aos produtores porque são impostos pela
concorrência com outros produtores”. (Bourdieu,1997, p. 39)
Esta pressão sobre os jornalistas
gera conseqüências que se retraduzem por escolhas, por audiências e presenças.
O índice de audiência se traduz na
pressão da urgência que é uma questão das relações entre o pensamento e a
velocidade. Para atingir a velocidade pensam por “idéias feitas”, idéias
aceitas por todos, banais, convencionais, comuns. São idéias que, quando as
aceitamos, já estão aceitas. Desta forma a recepção não é um problema.
A comunicação não existe ou é
aparente. As mensagens, por sua banalidade, são comuns ao emissor e ao
receptor.
Por outro lado há debates
aparentemente verdadeiros, falsamente verdadeiros, preparados pelo apresentador
que distribui os tempos da palavra e o tom da palavra.
A televisão é um instrumento de
comunicação pouco autônomo, devido às relações de concorrência, que são
relações de conivência, de
cumplicidade, baseadas nos interesses comuns ligados à sua posição no campo de produção simbólica e também porque têm
em comum, estruturas cognitivas, categorias de recepção e de apreciação ligadas
à sua origem social e à sua formação.
A televisão é um universo que
expressa os agentes sociais com aparência de liberdade, da autonomia, mas não
passam de marionetes de uma estrutura que é preciso ser manifestada e
elucidada.
A estrutura invisível e seus efeitos
Para entender o que se passa em um
estúdio de TV e seus mecanismos é preciso compreender a noção de campo
jornalístico. “O mundo do jornalismo é
um microcosmo que tem leis próprias e que é definido por sua posição no mundo
global e pelas atrações e repulsões que sofre da parte dos outros microcosmos”.
(Op. cit, p. 55)
Há relações de força não percebidas
que podem ser apreendidas através de indicadores como as fatias de mercado, o
peso aos olhos dos anunciantes, o capital coletivo de jornalistas prestigiosos,
além das interações entre pessoas, que se falam (ou não), que lêem.
As relações de força objetiva
constituem a estrutura do campo jornalístico. A estrutura, o peso da
instituição, seu peso na instituição não é percebida nem pelos telespectadores,
nem pelos jornalistas, percebem apenas os efeitos.
Um campo é um espaço social que é
também um campo de lutas para transformar ou conservar esse campo de forças.
Cada um define seu lugar no campo, conforme sua concorrência com as outras
forças, definindo sua estratégia.
A concorrência econômica entre as
emissoras ou os jornais pelos leitores e pelos ouvintes (fatias de mercado)
realiza-se sob a concorrência entre os jornais. Esta concorrência tem seus
desafios próprios como o furo, a
informação exclusiva, a reputação na profissão etc. que resulta nas relações de
forças econômicas e simbólicas.
Para saber o que vai escrever tal
jornalista, preciso saber o poder do seu órgão de imprensa que se mede, entre
outros, por seu peso econômico, pelas fatias de mercado e por seu peso
simbólico.
Quanto mais um jornal estende sua
difusão mais caminha para assuntos que não levantam problemas. Constrói-se o
objeto de acordo com as categorias de percepção do receptor. Todo trabalho
coletivo de homogeneizar, banalizar, conformizar e despolitizar, ninguém deseja
ser seu sujeito. Deseja-se que o jornal televisivo confirme coisas já
conhecidas e, sobretudo, que deixe as estruturas mentais intactas, isto é, que
não mude a nossa maneira de ver e de pensar.
A televisão está ajustada às
estruturas mentais do público; e o faz sem que ninguém o peça, apenas pela
lógica da concorrência.
Os jornalistas, ou o campo
jornalístico, por deterem os instrumentos de produção e difusão da informação,
devem sua importância ao mundo social.
O campo jornalístico baseia-se em
categorias de pensamento, em certa relação com a linguagem que estão no
princípio da seleção que os
jornalistas operam na realidade social, e também no conjunto das produções
simbólicas. Seleção que significa censura
que os jornalistas exercem, ao reter apenas o que lhes interessa.
As informações sensacionalistas,
consagradas aos esportes e às variedades, impõem-se ao campo jornalístico. A
partir do peso simbólico da televisão e, entre as televisões concorrentes,
daquelas que se ajustam à busca do sensacional do espetacular, do
extraordinário.
Os jornalistas com aptidão para
curvar-se sem escrúpulos às expectativas do público menos exigente e os
indiferentes a qualquer forma de deontologia tendem a impor seus valores, sua maneira
de ser e de falar ao conjunto de jornalistas.
As televisões levadas pela
concorrência por fatias de mercado recorrem primeiramente às variedades e às
notícias esportivas, sem importar com o que tenha ocorrido no mundo. Fala-se de
futebol, das catástrofes naturais, dos acidentes, dos incêndios, assuntos que
não exigem nenhuma competência, sobretudo política.
O campo do jornalismo depende
diretamente da demanda e está sujeito à sanção do mercado, mais do que o campo
político. Ele está sob a pressão do campo econômico por intermédio do índice de
audiência; que por sua vez está sujeito às pressões comerciais.
O autor apresenta a importância da
luta contra o índice de audiência em nome da democracia. O índice de audiência
é a sanção do mercado, da economia. A televisão regida pelo índice de audiência
contribui para exercer sobre o consumidor, as pressões do mercado. Alerta aos
pensadores críticos, as organizações encarregadas de exprimir os interesses dos
dominados a pensar com clareza esse problema a enfrentá-lo a lutar
coletivamente, para ter boas condições de difusão e ter prioridade nos meios de
difusão.
A influência do jornalismo
O campo jornalístico e a lógica do
mercado influenciam os campos de produção cultural. Por sua vez a televisão
produz efeitos no campo jornalístico e, através dele, em todos os outros campos
de produção cultural que estão ligados à sua estrutura própria. Esta significa
os diferentes jornais e jornalistas segundo sua autonomia com relação às forças
externas, as do mercado dos anunciantes. O grau de autonomia de um órgão de
difusão se mede pelas suas receitas que provém da publicidade e da ajuda do
Estado, e pelo grau de concentração dos anunciantes. Já o grau de autonomia de
um jornalista particular, depende do grau de concentração da imprensa, da
posição do seu jornal, de sua posição no jornal ou órgão de imprensa, de seu
salário e de sua capacidade de produção autônoma da informação.
O campo jornalístico se organiza
conforme uma estrutura em conformidade com a dos outros campos, e o peso
comercial é muito maior. Mais que os outros campos, o campo jornalístico está
sujeito à prova dos vereditos do mercado, através da sanção da clientela
(direta) ou do índice de audiência (indireta).
Em um campo orientado para a
produção de um bem altamente perecível que são as notícias, a concorrência pela
clientela. Atende a tomar a forma de uma concorrência pela prioridade, pelas
notícias mais novas – o furo, mas
que provocam efeito de campo, não apenas percebidos pelos concorrentes, mas também
pela clientela.
Outro efeito de campo: a
concorrência incita a exercer uma vigilância permanente sobre as atividades dos
concorrentes a fim de tirar proveito de seus fracassos, evitando seus erros, e
de contrapor-se a seus sucessos, aproveitando os supostos instrumentos de seus
êxitos.
Hoje as sanções internas tendem a
perder sua força simbólica e os jornalistas e jornais sérios são obrigados a
fazer concessões à lógica do mercado e do marketing, introduzida pela televisão
comercial.
Por outro lado a influência do campo
jornalístico reforça as tendências dos agentes comprometidos com o campo
político a submeter-se à pressão das expectativas e das exigências da maioria,
muitas vezes irrefletidas, e frequentemente constituídas como reivindicações mobilizadoras
pela expressão que recebem na imprensa.
É importante salientar que a
influência do campo jornalístico, ele próprio sujeito a uma influência
crescente da lógica comercial sobre um campo político (demagogia), contribui
para enfraquecer a autonomia do campo político e o destaque atribuído aos
representantes de sobressair-se por sua competência de peritos ou sua
autoridade de “guardiões dos valores coletivos”.
O jornalismo e a política
O jornalismo produz e impõe uma
visão inteiramente particular do campo político.
Os jornalistas que não têm a
intenção democrática de informar ou de educar divertindo, invocam as
expectativas do público para justificar a política demagógica, projetam sobre o
público sua própria visão. Não são propensos, ao debate, à dialética ou ao
confronto entre os argumentos dos políticos, sobre o que constitui o próprio
desafio do debate: déficit orçamentário, baixa dos impostos ou dívida externa.
Tendem a interessar-se mais pelas questões tática política do que pelos
debates, mais pelo efeito político dos discursos que por seu conteúdo, muito
mais enfim pelos fuxicos e mexericos.
Em síntese, o jogo político é
característica dos jornalistas. Sua ação não é para mobilizar e politizar, ao
contrário, constroem uma realidade do mundo para se chegar a um desengajamento
fatalista, favorável à manutenção da ordem estabelecida principalmente sobre os
menos politizados. Esta é a ação manipuladora dos produtores de televisão e dos
publicitários.
2 ANÁLISE DO
LIVRO: Sobre a Televisão – Pierre Bourdieu
O livro de Bourdieu é uma crítica ao
jornalismo e a às mensagens televisivas. É um livro muito importante para ser
lido pelos jornalistas para que façam uma reflexão sobre seu trabalho e
compreendam toda manipulação a que são sujeitos para que descubram brechas para
agir com autonomia. Também é imprescindível para todos nós, telespectadores,
para que sejamos mais críticos quanto às imagens induzidas para nos absorver e
não mudarmos a realidade. É ainda imprescindível para os educadores que podem
utilizar imagens para explorar o poder que elas têm para convencer as pessoas.
Embora a crítica de Bourdieu remonta ao tempo em que
a televisão tinha a primazia sobre os meios de comunicação de conteúdo, imagem
e som, não era possível a interatividade e a internet não era ainda tão
difundida, nos oferece um importante livro sobre a circulação da informação.
Percebeu-se
através da leitura os perigos a que estamos submetidos com a concorrência sem
limites quanto a seleção da informação: pelo índice de audiência dos programas
da TV. É construída uma realidade baseada em acontecimentos triviais,
sensacionais, fúteis, que não alteram as estruturas mentais dos
telespectadores.
Infere-se que há intervenções
políticas, um controle político e censuras econômicas sobre a televisão, pelos
anunciantes que pagam a publicidade ou pelo Estado que dá subvenções. Portanto
quem tem poder forte sobre a determinação dos conteúdos e intenções das imagens
são os anunciantes ou o Estado que lutam pela fatia de mercado, pela audiência.
Infere-se que a televisão é um
instrumento da ordem simbólica, exerce uma forma perniciosa de violência
simbólica. Uma parte desta ação simbólica se expressa no consenso que as
informações exercem sobre as pessoas, não dividindo opiniões. Consegue
manipular as posições de todos num sentido que lhe seja favorável, isto é, que
se faça uma leitura direcionada da realidade. O livro mostra que não estamos
livres para ler as imagens. O autor dirige nosso olhar.
O autor aponta o poder exercido
pelo poder político, através de nomeações e intervenções em postos dirigentes.
A pressão econômica também é evidenciada pelo autor, por parte dos
proprietários das emissoras mas também por seus anunciantes, fato que ajuda na
manutenção da ordem simbólica.
Nessa direção podemos verificar, por
exemplo, o racismo estampado nas novelas, no cinema, nos programas culturais. O
negro é tido como uma raça inferior, executando papéis inferiores. E o livro
esclarece sobre este aspecto, quando afirma que as imagens televisivas,
produzem o efeito real. Tem um poder de mobilização muito grande, fazendo
existir idéias ou representação sobre acontecimentos ou grupos, podendo
desencadear sentimentos negativos como o racismo. Isto porque o repórter faz
uma construção social da realidade capaz de exercer efeitos sociais de
mobilização, como a inculcação da marginalização ou inferiorização do negro.
Outro aspecto que fica patente neste
livro é o aspecto do círculo vicioso que se cria no jornalismo. Para que tenha
um índice de audiência elevado é preciso produzir um choque que interesse a
toda mídia. Por exemplo, o caso de uma morte de meningite em Palmas. Esta
informação é reforçada pelo efeito de concorrência. Ela é imposta aos
telespectadores porque se impõe aos produtores, como fato inédito. E ela
necessita de particularidades (furo) porque é imposta pela concorrência com
outros produtores. Esta pressão sobre os jornalistas gera conseqüências que se
traduzem por escolhas, por audiências e presenças indispensáveis para a
sobrevivência.
Por ser a televisão um instrumento
poderoso por assumir uma linguagem de comunicação através das imagens que são
manipuladas para construir uma realidade que envolve audiência, traz
advertências importantes. É possível utilizar as imagens televisivas para a
autonomia, para a educação de consciências críticas, que movam as estruturas
mentais para criticar e formar novas opiniões em vista de uma transformação
social.
Obrigado!
ResponderExcluiresse resumo me ajudou a entender o livro fico agradecido!:D
Favor formular melhor o texto!
ResponderExcluirgostaria de saber mais sobre as influencias do jornalismo e os jogos olímpicos
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