terça-feira, 20 de março de 2012

Resumo crítico do livro: BOURDIEU, Sobre a televisão


Resumo crítico do livro: BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Zahar Ed, 1997.
                                                                                               Lourdes Lúcia Goi
                                                                            Professora da faculdade ITOP
                                                                                               Palmas- Tocantins


1 IDEIAS PRINCIPAIS DO LIVRO

            Apresenta críticas aos profissionais da imagem, servindo de alerta para que esta não se transforme em instrumento de opressão simbólica, uma vez que a imagem e o discurso são carregados de ideologia. A seguir as principais ideias do livro:

O estúdio e seus bastidores

            Faz uma alerta aos que são convidados a se manifestar na televisão para que o façam a partir de negociações com os jornalistas, a partir de um contrato. Os jornalistas sejam integrados à reflexão sobre as intenções desta participação para superar coletivamente às ameaças de instrumentalização. Pesquisadores ou cientistas têm a obrigação de restituir as descobertas sobre a natureza e a sociedade aos telespectadores. Participando da televisão (teoricamente) tem a possibilidade de atingir todo mundo.
            O acesso à televisão tem uma contrapartida uma formidável censura. Há perda de autonomia, pois o assunto é imposto, o tempo é limitado impondo ao discurso restrições, evidenciando-se como uma questão política. Há intervenções políticas, um controle político.
            Há também censuras econômicas, pressão econômica sobre a televisão, pelos anunciantes que pagam a publicidade ou pelo Estado que dá subvenções.
            Através destas censuras política e econômica percebe-se a televisão como instrumento de manutenção da ordem simbólica. Os que participam do processo televisivo manipulam, e quanto mais manipulados são eles, mais inconscientes de sê-lo. Os jornalistas não aceitam a crítica dos sociólogos, a denúncia dos escândalos das ações impedindo o avanço da análise do meio de comunicação, e o incentivo ao compromisso de sua responsabilidade.
            Certas posições podem desviar do essencial, na medida em que a corrupção das pessoas mascara a corrupção estrutural que se exerce sobre o conjunto do jogo através de mecanismos como a concorrência pelas fatias do mercado.
            A televisão exerce uma forma perniciosa de violência simbólica. Quem exerce ou sofre a influência da comunicação pela mídia o fazem com cumplicidade, envolvendo-se ou aceitando embora que inconsciente.
            Uma parte da ação simbólica da TV, no plano das informações, consiste em construir a realidade de maneira que não choca ninguém, que envolve disputa, que não divide, que forma consenso, mas que não toca nada de importante. Estas podem ser as variedades, que ocupam tempo com coisas fúteis.
            Os jornalistas fazem uma seleção pelo sensacional, espetacular, e ainda fazem uma construção do que é selecionado.
            A televisão convida a dramatização posada em cena, em imagens, um acontecimento exagerando-lhe a importância e o caráter dramático e trágico.
            A busca dos jornalistas pelo que não é cotidiano, pelo extraordinário, pode ser o que não é ordinário para outros jornais. Esta busca revela-se como uma grande limitação porque existe uma uniformização provocando uma perseguição pelo furo.
            A busca pelo extra-ordinário pode ter efeitos políticos. Os jornalistas dispõe da imagem televisiva, e, por medo da exclusão ou por instruções políticas, produzem efeitos extraordinários.
            Pode também produzir o efeito de real. Pode fazer ver e fazer crer no que faz ver. Esse poder de mobilização faz existir idéias ou representações sobre acontecimentos ou grupos, podendo desencadear sentimentos negativos como o racismo. Isto tudo porque o repórter sempre faz uma construção social da realidade capaz de exercer efeitos sociais de mobilização.
            Voltando ao extra-ordinário, destaca os efeitos do mecanismo de circulação circular do jornalismo. Para se manter vivo e com audiência é preciso produzir um choque que interesse a toda mídia ou ao menos a um dos meios de comunicação e que poderá ser reforçado pelo efeito da concorrência. “Há objetos que são impostos aos telespectadores porque se impõem aos produtores; e se impõem aos produtores porque são impostos pela concorrência com outros produtores”. (Bourdieu,1997, p. 39)
            Esta pressão sobre os jornalistas gera conseqüências que se retraduzem por escolhas, por audiências e presenças.
            O índice de audiência se traduz na pressão da urgência que é uma questão das relações entre o pensamento e a velocidade. Para atingir a velocidade pensam por “idéias feitas”, idéias aceitas por todos, banais, convencionais, comuns. São idéias que, quando as aceitamos, já estão aceitas. Desta forma a recepção não é um problema.
            A comunicação não existe ou é aparente. As mensagens, por sua banalidade, são comuns ao emissor e ao receptor.
            Por outro lado há debates aparentemente verdadeiros, falsamente verdadeiros, preparados pelo apresentador que distribui os tempos da palavra e o tom da palavra.
            A televisão é um instrumento de comunicação pouco autônomo, devido às relações de concorrência, que são relações de conivência, de cumplicidade, baseadas nos interesses comuns ligados à sua posição no campo de produção simbólica e também porque têm em comum, estruturas cognitivas, categorias de recepção e de apreciação ligadas à sua origem social e à sua formação.
            A televisão é um universo que expressa os agentes sociais com aparência de liberdade, da autonomia, mas não passam de marionetes de uma estrutura que é preciso ser manifestada e elucidada.

A estrutura invisível e seus efeitos

            Para entender o que se passa em um estúdio de TV e seus mecanismos é preciso compreender a noção de campo jornalístico.    “O mundo do jornalismo é um microcosmo que tem leis próprias e que é definido por sua posição no mundo global e pelas atrações e repulsões que sofre da parte dos outros microcosmos”. (Op. cit, p. 55)
            Há relações de força não percebidas que podem ser apreendidas através de indicadores como as fatias de mercado, o peso aos olhos dos anunciantes, o capital coletivo de jornalistas prestigiosos, além das interações entre pessoas, que se falam (ou não), que lêem.
            As relações de força objetiva constituem a estrutura do campo jornalístico. A estrutura, o peso da instituição, seu peso na instituição não é percebida nem pelos telespectadores, nem pelos jornalistas, percebem apenas os efeitos.
            Um campo é um espaço social que é também um campo de lutas para transformar ou conservar esse campo de forças. Cada um define seu lugar no campo, conforme sua concorrência com as outras forças, definindo sua estratégia.
            A concorrência econômica entre as emissoras ou os jornais pelos leitores e pelos ouvintes (fatias de mercado) realiza-se sob a concorrência entre os jornais. Esta concorrência tem seus desafios próprios como o furo, a informação exclusiva, a reputação na profissão etc. que resulta nas relações de forças econômicas e simbólicas.
            Para saber o que vai escrever tal jornalista, preciso saber o poder do seu órgão de imprensa que se mede, entre outros, por seu peso econômico, pelas fatias de mercado e por seu peso simbólico.
            Quanto mais um jornal estende sua difusão mais caminha para assuntos que não levantam problemas. Constrói-se o objeto de acordo com as categorias de percepção do receptor. Todo trabalho coletivo de homogeneizar, banalizar, conformizar e despolitizar, ninguém deseja ser seu sujeito. Deseja-se que o jornal televisivo confirme coisas já conhecidas e, sobretudo, que deixe as estruturas mentais intactas, isto é, que não mude a nossa maneira de ver e de pensar.
            A televisão está ajustada às estruturas mentais do público; e o faz sem que ninguém o peça, apenas pela lógica da concorrência.
            Os jornalistas, ou o campo jornalístico, por deterem os instrumentos de produção e difusão da informação, devem sua importância ao mundo social.
            O campo jornalístico baseia-se em categorias de pensamento, em certa relação com a linguagem que estão no princípio da seleção que os jornalistas operam na realidade social, e também no conjunto das produções simbólicas. Seleção que significa censura que os jornalistas exercem, ao reter apenas o que lhes interessa.
            As informações sensacionalistas, consagradas aos esportes e às variedades, impõem-se ao campo jornalístico. A partir do peso simbólico da televisão e, entre as televisões concorrentes, daquelas que se ajustam à busca do sensacional do espetacular, do extraordinário.
            Os jornalistas com aptidão para curvar-se sem escrúpulos às expectativas do público menos exigente e os indiferentes a qualquer forma de deontologia tendem a impor seus valores, sua maneira de ser e de falar ao conjunto de jornalistas.
            As televisões levadas pela concorrência por fatias de mercado recorrem primeiramente às variedades e às notícias esportivas, sem importar com o que tenha ocorrido no mundo. Fala-se de futebol, das catástrofes naturais, dos acidentes, dos incêndios, assuntos que não exigem nenhuma competência, sobretudo política.
            O campo do jornalismo depende diretamente da demanda e está sujeito à sanção do mercado, mais do que o campo político. Ele está sob a pressão do campo econômico por intermédio do índice de audiência; que por sua vez está sujeito às pressões comerciais.
            O autor apresenta a importância da luta contra o índice de audiência em nome da democracia. O índice de audiência é a sanção do mercado, da economia. A televisão regida pelo índice de audiência contribui para exercer sobre o consumidor, as pressões do mercado. Alerta aos pensadores críticos, as organizações encarregadas de exprimir os interesses dos dominados a pensar com clareza esse problema a enfrentá-lo a lutar coletivamente, para ter boas condições de difusão e ter prioridade nos meios de difusão.

A influência do jornalismo

            O campo jornalístico e a lógica do mercado influenciam os campos de produção cultural. Por sua vez a televisão produz efeitos no campo jornalístico e, através dele, em todos os outros campos de produção cultural que estão ligados à sua estrutura própria. Esta significa os diferentes jornais e jornalistas segundo sua autonomia com relação às forças externas, as do mercado dos anunciantes. O grau de autonomia de um órgão de difusão se mede pelas suas receitas que provém da publicidade e da ajuda do Estado, e pelo grau de concentração dos anunciantes. Já o grau de autonomia de um jornalista particular, depende do grau de concentração da imprensa, da posição do seu jornal, de sua posição no jornal ou órgão de imprensa, de seu salário e de sua capacidade de produção autônoma da informação.
            O campo jornalístico se organiza conforme uma estrutura em conformidade com a dos outros campos, e o peso comercial é muito maior. Mais que os outros campos, o campo jornalístico está sujeito à prova dos vereditos do mercado, através da sanção da clientela (direta) ou do índice de audiência (indireta).
            Em um campo orientado para a produção de um bem altamente perecível que são as notícias, a concorrência pela clientela. Atende a tomar a forma de uma concorrência pela prioridade, pelas notícias mais novas – o furo, mas que provocam efeito de campo, não apenas percebidos pelos concorrentes, mas também pela clientela.
            Outro efeito de campo: a concorrência incita a exercer uma vigilância permanente sobre as atividades dos concorrentes a fim de tirar proveito de seus fracassos, evitando seus erros, e de contrapor-se a seus sucessos, aproveitando os supostos instrumentos de seus êxitos.
            Hoje as sanções internas tendem a perder sua força simbólica e os jornalistas e jornais sérios são obrigados a fazer concessões à lógica do mercado e do marketing, introduzida pela televisão comercial.
            Por outro lado a influência do campo jornalístico reforça as tendências dos agentes comprometidos com o campo político a submeter-se à pressão das expectativas e das exigências da maioria, muitas vezes irrefletidas, e frequentemente constituídas como reivindicações mobilizadoras pela expressão que recebem na imprensa.
            É importante salientar que a influência do campo jornalístico, ele próprio sujeito a uma influência crescente da lógica comercial sobre um campo político (demagogia), contribui para enfraquecer a autonomia do campo político e o destaque atribuído aos representantes de sobressair-se por sua competência de peritos ou sua autoridade de “guardiões dos valores coletivos”.

O jornalismo e a política
            O jornalismo produz e impõe uma visão inteiramente particular do campo político.
            Os jornalistas que não têm a intenção democrática de informar ou de educar divertindo, invocam as expectativas do público para justificar a política demagógica, projetam sobre o público sua própria visão. Não são propensos, ao debate, à dialética ou ao confronto entre os argumentos dos políticos, sobre o que constitui o próprio desafio do debate: déficit orçamentário, baixa dos impostos ou dívida externa. Tendem a interessar-se mais pelas questões tática política do que pelos debates, mais pelo efeito político dos discursos que por seu conteúdo, muito mais enfim pelos fuxicos e mexericos.
            Em síntese, o jogo político é característica dos jornalistas. Sua ação não é para mobilizar e politizar, ao contrário, constroem uma realidade do mundo para se chegar a um desengajamento fatalista, favorável à manutenção da ordem estabelecida principalmente sobre os menos politizados. Esta é a ação manipuladora dos produtores de televisão e dos publicitários.


2  ANÁLISE DO LIVRO: Sobre a Televisão – Pierre Bourdieu

            O livro de Bourdieu é uma crítica ao jornalismo e a às mensagens televisivas. É um livro muito importante para ser lido pelos jornalistas para que façam uma reflexão sobre seu trabalho e compreendam toda manipulação a que são sujeitos para que descubram brechas para agir com autonomia. Também é imprescindível para todos nós, telespectadores, para que sejamos mais críticos quanto às imagens induzidas para nos absorver e não mudarmos a realidade. É ainda imprescindível para os educadores que podem utilizar imagens para explorar o poder que elas têm para convencer as pessoas.
          Embora  a crítica de Bourdieu remonta ao tempo em que a televisão tinha a primazia sobre os meios de comunicação de conteúdo, imagem e som, não era possível a interatividade e a internet não era ainda tão difundida, nos oferece um importante livro sobre a circulação da informação.
            Percebeu-se através da leitura os perigos a que estamos submetidos com a concorrência sem limites quanto a seleção da informação: pelo índice de audiência dos programas da TV. É construída uma realidade baseada em acontecimentos triviais, sensacionais, fúteis, que não alteram as estruturas mentais dos telespectadores.
            Infere-se que há intervenções políticas, um controle político e censuras econômicas sobre a televisão, pelos anunciantes que pagam a publicidade ou pelo Estado que dá subvenções. Portanto quem tem poder forte sobre a determinação dos conteúdos e intenções das imagens são os anunciantes ou o Estado que lutam pela fatia de mercado, pela audiência.
            Infere-se que a televisão é um instrumento da ordem simbólica, exerce uma forma perniciosa de violência simbólica. Uma parte desta ação simbólica se expressa no consenso que as informações exercem sobre as pessoas, não dividindo opiniões. Consegue manipular as posições de todos num sentido que lhe seja favorável, isto é, que se faça uma leitura direcionada da realidade. O livro mostra que não estamos livres para ler as imagens. O autor dirige nosso olhar.
            O autor aponta o poder exercido pelo poder político, através de nomeações e intervenções em postos dirigentes. A pressão econômica também é evidenciada pelo autor, por parte dos proprietários das emissoras mas também por seus anunciantes, fato que ajuda na manutenção da ordem simbólica.
            Nessa direção podemos verificar, por exemplo, o racismo estampado nas novelas, no cinema, nos programas culturais. O negro é tido como uma raça inferior, executando papéis inferiores. E o livro esclarece sobre este aspecto, quando afirma que as imagens televisivas, produzem o efeito real. Tem um poder de mobilização muito grande, fazendo existir idéias ou representação sobre acontecimentos ou grupos, podendo desencadear sentimentos negativos como o racismo. Isto porque o repórter faz uma construção social da realidade capaz de exercer efeitos sociais de mobilização, como a inculcação da marginalização ou inferiorização do negro.
            Outro aspecto que fica patente neste livro é o aspecto do círculo vicioso que se cria no jornalismo. Para que tenha um índice de audiência elevado é preciso produzir um choque que interesse a toda mídia. Por exemplo, o caso de uma morte de meningite em Palmas. Esta informação é reforçada pelo efeito de concorrência. Ela é imposta aos telespectadores porque se impõe aos produtores, como fato inédito. E ela necessita de particularidades (furo) porque é imposta pela concorrência com outros produtores. Esta pressão sobre os jornalistas gera conseqüências que se traduzem por escolhas, por audiências e presenças indispensáveis para a sobrevivência.
            Por ser a televisão um instrumento poderoso por assumir uma linguagem de comunicação através das imagens que são manipuladas para construir uma realidade que envolve audiência, traz advertências importantes. É possível utilizar as imagens televisivas para a autonomia, para a educação de consciências críticas, que movam as estruturas mentais para criticar e formar novas opiniões em vista de uma transformação social.








3 comentários:

  1. Obrigado!
    esse resumo me ajudou a entender o livro fico agradecido!:D

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  2. gostaria de saber mais sobre as influencias do jornalismo e os jogos olímpicos

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